Roteiro (Primeira versão)
Cena 1
(White noise, moderado.
Quarto bem iluminado. “C” sentada à escrivaninha, notebook aberto visível em
uma página do word, como se estivesse editando seu currículo. Ela olha para a
câmera que se aproxima lentamente, com expressão neutra, congelada.)
Cena 2
(White noise, forte. Quarto
de casal, menos iluminado. “B” congelada como se no ato de separar roupas
limpas para guardar. Uma pilha de camisas masculinas, outra de blusas femininas
dobradas, ambas com máscaras em cima, como se tudo estivesse recém lavado. A
câmera se aproxima lentamente.)
Cena 3
(White noise, mais
forte. “A” parada em uma sala, na qual luzes coloridas piscam. Balões no chão,
drink na mão, roupa de festa, maquiagem pesada. Olha diretamente para a câmera,
que se aproxima lentamente, com expressão neutra.)
Cena 4
(Corte abrupto do
crescente do White noise. Sala bem iluminada. “B” com o celular na mão, andando
pela sala, hesitando em fazer a chamada. Senta-se no sofá. Mexe no telefone,
fazendo a ligação.)
Cena 5
(Quarto bem iluminado.
“C” novamente na escrivaninha, com uma xícara de café e um prato com biscoitos.
Para o que está fazendo no computador e pega o celular)
Cena 6
(Quarto escuro. Toca o
telefone de “A”. Ela aceita a videochamada. Quarto escuro apenas com a luz do
telefone e a mão de A.)
A: B? Aconteceu alguma
coisa?
B: Já são duas da
tarde. Você concordou em fazer chamada hoje.
A: Tá bom. Pera aí.
Cena 7
(Mesmo quarto. “A”
trocando de roupa na penumbra.)
C (em off, como se a
voz viesse do telefone): Eu não acredito... é sempre a mesma coisa, B eu estou
de saco cheio
Cena 8
(Screen capture. “B” e
“C” esperando, “A” entra no frame.)
A: Pronto. To aqui.
Mas do que vocês queriam falar mesmo?
C: (exaltada) Como
assim, do que a gente queria falar!? Você tem noção do que aconteceu?
B: (exausta) C, por favor...
C: Não, B, e eu to
cansada de você e da mãe passando pano pra ela esses últimos meses. Sério. Já
deu.
A: (quase sarcástica)
Olha, eu sei que você tá estressada, quer dizer, voltar a morar com a mãe deve
ter sido barra-
C: Cala a boca, você
não sabe nada. Minha relação com ela e com o Jorge tá super tranquila, tá? Eles
tem sido ótimos e super me apoiado.
B: Que bom, C, que
bom. Mas não é sobre isso que a gente precisava conversar.
(silêncio
constrangedor)
A: O Paulo tá bem?
B: Tá bem sim. Acho
que passar esse tempo em casa acabou aproximando a gente, sabe? Até que fez
bem.
A: Nossa, eu não sei
como vocês aguentam, deus me livre ficar presa em casa.
C: Pois devia. Especialmente
depois do que aconteceu com nosso pai.
(Silêncio pesado.)
B: C!
A: Eu não sei do que
você tá falando, nosso pai era fumante, foi uma complicação, todo mundo sabe
que cigarro mata...
C: Ele não morreu “de
cigarro”.
B: Gente, é sério...
não adianta brigar por isso agora. Tá todo mundo triste, tá todo mundo exausta,
a gente não se falava já tinha um mês inteiro... me conta algo bom, vai, acho
que a gente precisa falar de coisa boa.
C: (suspira) Tá bom. É
verdade o que eu disse. A mãe e o Jorge tem sido ótimos. Talvez dar uma parada
tenha até sido bom, tou até estudando francês. Sei lá, acho que eu ia ficar
doida.
B: Viu? E eu e o Paulo
estamos pensando até em filho. Ou talvez um cachorro.
A: Eu... conheci um
cara no tinder. (pausa) Gente, eu tenho que ir, eu pedi comida e já vai chegar.
(Elas desconectam)
Cena 9
(C continua mexendo no
computador.)
C: Mãe! A A e a B
mandaram um bejio!
(A câmera se afasta
lentamente enquanto ela digita, envolvida no que está fazendo.)
Cena 10
(B se ocupa ajeitando
as almofadas da cama)
Paulo: (voz masculina
em off) Amor, corre aqui!
(B sorri e segue a
voz)
Cena 11
(A permanece sentada,
cabeça entre os joelhos em uma crise de choro. No braço do sofá, um envelope de
clínica de exame, dando a entender que ela fez o teste e deu positivo.)

Comentários
Postar um comentário